segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A Alternativa, a Liberdade do Pensamento, a Militância e os novos tempos

  
   A minha vida foi sempre servida com assuntos sobre política. A minha mãe foi uma forte apoiante do Socialista nos seus anos de militância partidária, já o meu pai era menos militante, apenas detentor de uma visão Keynesiana, puro social-democrata e crente de que única solução para a democracia sobreviver são os consensos. Era costume se discutir à mesa os mais variados assuntos políticos do país e do mundo, maioria terminava indiscutivelmente em críticas ao sistema político e ao governo de forte odor a ausência de democracia liderado por Cavaco Silva.
  A minha juventude (não que seja velho) nunca passou por militância e ativismo em movimentos cívicos específicos. Pontualmente alinhei em diversas "batalhas" nas quais estava envolvido. Apesar não estar afeto a movimentos cívicos, sempre tive uma participação cívica bastante ativa.
   Entrei para o Bloco como militante nos bons anos em que o Bloco era a casa das mais variadas tendências e correntes de esquerda. De socialistas a sociais-democratas, passando ecologistas, comunistas entre outros que conviviam no seio de um partido aberto há democracia e à unidade em torno de um projeto político ambicioso. O Bloco era como uma força política capaz de fazer a diferença através do pensar e da forma estar na política, uma "lufada de ar fresco" na democracia.
  Inicialmente muito ativo na militância participando em diversas ações do BE a nível regional e nacional. Foi como uma fonte de aprendizagem no seio de centenas de histórias na defesa da democracia e na luta dos direitos. 

  Nunca fui hipócrita quanto à minha linha política e a proximidade do PS. Era uma questão de ADN político, anti corpos que se formaram em conversas de jantar. Sempre frisei a minha visão económica Keynesiana e a minha social-democracia herdada ao meu pai eram o meio veio de ligação à atividade política, e com o avanço académico fui afinando e misturando com a realidade. Sempre fui portador de uma coerência sobre os meus valores e a minha forma de estar na política como na vida. Nunca fiz questão de militar com desejos e progressões, também nunca descartei as possibilidades de assumir algo desde que estivasse à altura do desempenho. Com a minha via académica e a minha atividade laboral, a militância diminui a frequência. Este apagão de militância durou alguns anos. O meu regresso, mesmo que a meio gás, surgiu em 2012 na preparação para as autárquicas. Tive a oportunidade integrar e encabeçar o crescimento do Bloco a nível regional e criar bases para o Bloco se tornar uma alternativa às forças políticas estabelecidas no Concelho. Tornar possível o BE ser uma força para futuros consensos políticos. Trazer o Bloco para a política autárquica com o objetivo de criar um modelo abrangente a outras zonas de um Bloco responsável, com gente capaz de assumir posições e coligações que sirvam o país de forma responsável. Como tal, não poderia deixar de assumir a uma candidatura à União de Freguesias da minha zona de residência, abraçando uma campanha cheia de altos e baixos, pouco aproveitada, e embaraçosa para todos aqueles que deram ao Bloco a sua confiança. 
    A campanha acabaria por ser o mote para lançar as divergências que existiam entre mim e a política que o Bloco quis seguir a nível regional e nacional. As visões eram antagónicas. O BE entendia que a luta estava centrada na eleição de um vereador para ser "muleta" de uma possível maioria da CDU. Por outro lado, eu entendi sempre que a implantação a nível autárquico, com inicio nas freguesias, era o alicerce mais apropriado para o crescimento de uma força política a nível regional. Não havia espaço para consensualizar as várias visões de militância extrema com algo que eu entendia ser base para a sustentabilidade do partido como uma força autárquica. Era a oportunidade de fazer de Loures o laboratório para novos projetos a nível regional do Bloco. Enquanto para mim era extremamente necessário o debate sobre o futuro e os desejos do Bloco e da sua linha política, para a maioria, inclusive a direção da Concelhia, era mais fácil resumir ao silêncio e procurar consensos pouco democratas. 
   O sentimento da parte da Concelhia era chegar a consensos que respeitassem o projeto político pouco ambicioso do candidato à Presidência da Câmara Jorge Costa, e quem não gostava da convergência em torno do programa fraco do candidato, que tivesse visões ou discursos que se ausentassem da normal linha política da direção regional e nacional, então não tinha espaço no partido.  
    Após as autárquicas as exigências de uma convergência, mesmo que forçada, ficaram mais firmes. Não aceitava. As convergências fazem-se com atos de democracia onde as partes firmassem um acordo para sã convivência, não imposições que procuram a estabilidade numa linha política feita com ausência de pensamento livre. A situação acabou por levar à minha saída num golpe de secretaria, que culminaria, mais tarde, na saída de muitos outros que militavam na concelhia, e apoiantes. 
    Certamente a minha saída era cada vez mais forte. A minha proximidade do Partido Socialista era notória, e o meu forte empenho para que o Bloco fosse o parceiro de excelência em possíveis coligações com o PS era visível. Isso tinha impacto futuro nas minhas decisões quanto ao rumo que entendia para o futuro, não poderia mudar a consciência política de uma força política, nem a linha escolhida, bem ou mal, por os representantes dos militantes. Era obrigatório tomar uma posição que acabou por ser tomada por a Concelhia de modo pouco democrático e ético. 
   A alternativa no Bloco só existe quando existe espaço para tal. Enquanto outros partidos (exceção do PCP pela linha ortodoxa que mantêm) têm as suas tendências, visões e criam debate em torno do futuro do partido, elevando as alternativas, o BE tem preferência em aceita-las vagamente até silenciar as divergências. 
   A alternativa é algo necessário, quer para a manutenção das forças políticas, quer para a própria democracia. Mais que nunca a existência do Governo PS, apoiado por os partidos à esquerda, vem demonstrar que os caminhos alternativos são saudáveis e capazes de poder impulsionar novas visões no caminho do melhoramento da democracia e na participação mais massiva de cada cidadão nessas decisões. 
   Uma democracia sem partidos não é democracia, tal como os partidos sem alternativas não capacitam os seus militantes a participarem democraticamente na vida do partido. Os anos avançam, e as pessoas amadurecem as suas ideias, a realidade vai mudando conforme a sociedade, é preciso pensar que os pilares da defesa dos valores da democracia acompanham os tempos.





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