segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Mudar de paradigma

    

   Candidatos na rua com propostas e promessas a inadiáveis. Ruas atoladas de reparações urgentes. Obras de rápidas e arranjos que lamentavelmente demoram quatro anos a chegar. Candidatos que nos cumprimentam na rua, alguns até são velhos amigos. Uma onda nasce no país, os políticos estão na rua e conhecem a realidade,  as pessoas e os problemas reais da freguesia ou do município. Tomam contacto com o país real. As autárquicas acabaram, acabou o contacto, está na hora do trabalho.
  O pós autárquicas é o regresso à normalidade. Os eleitos abandonam as ruas e os eleitores voltam à rotina normal. Nos próximos quatro anos as decisões ficam a cargo dos eleitos, a população fica reduzida à crítica e ao aplauso, e não tem apenas haver com a cor política​. As Assembleias locais são um dos pontos para a participação, mas na essência apenas discutidos pormenores, há mais promessas, mas pouco debate.
  A morte das associações é a ausência cada vez mais visível das "forças vivas" entrega aos partidos, que assumem a única fórmula de cidadania existente. Clubes de "pensadores" foram extintos, as listas partidárias absorvem a pasta de debate sobre o futuro de aldeias, vilas, cidades e do próprio país. Não há projetos de cidadania, deixamos ao cuidado das promessas. Candidaturas cidadãs são poucas, apesar dos resultados. A política abandona a base da democracia e entrega ao populismo e demagogia das redes sociais. É preciso mais.
  Cabe às autarquias trazer novamente as pessoas para o centro de decisões, e não, como tem sido cíclico, tomar para si. Há que reconstruir a confiança dos cidadãos nas suas instituições de decisão, e cabe começar por a base da democracia. As autarquias devem, acima de tudo, renovar e acabar com os velhos hábitos grosseiros que se foram instalando durante quatro décadas.
   Não cabe só, e apenas, à figura ao autarca eleito, mas sim a todos os membros eleitos e não eleitos das forças políticas existentes em cada localidade. É necessário criar condições para que as forças vivas locais voltem a ser parte ativa do presente e no futuro, tal como foram no passado. É necessário que figuras políticas e não políticas se reúnam na procura de soluções, parecerias e propostas nas áreas da cultura, desporto, educação e inovação, resgatar o equilíbrio entre os eleitos e eleitores. São necessários novos horizontes para um país que tem uma das menores participações cidadãs nas decisões democráticas da Europa.
   Não podemos, a bem da participação cidadã, continuar a aceitar que o espírito democrático morra nas comunidades ou entendermos que o voto e as assembleias locais são suficientes para o cidadão comum tenha condições para participar. De uma vez por todas temos de ter em conta que o afastamento dos cidadãos das decisões em democracia não é bom, a descrença na democracia pode ter consequências bastante perigosas. Temos de abandonar a capa de eleitos, e os vícios de promessas eleitorais e trabalhar para criarmos laços entre a comunidade. Caso contrário arriscamos a fortalecer os laços da comunidade com velhos hábitos que não são de boa memória para o país, minuto menos para uma democracia que se quer madura e plena.









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