terça-feira, 7 de novembro de 2017

O lirismo da posição do PS sobre a Catalunha!




  Mário Soares há quase 3 anos (14 de Novembro de 2014) e sobre a Catalunha, referiu numa crónica que tinha no Público que, ou a Espanha percebia que a opção do PSOE que então apresentava a solução de um estado federal aos eleitores era a única viável, e cito-o: "Como disse Felipe Gonzalez, é a altura de Espanha perceber que deve ser um Estado federal (...) Aliás, o atual secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, que é uma figura de extrema inteligência, tem dito o mesmo."
  
  Ou que e caso contrário, estas regiões e os seus cidadãos nos seus parlamentos autonómicos, e cito-o: "(...) serão obrigados a ir muito mais longe. (...)"

   Link para essa crónica do jornal "Público", aqui.

   O PSOE foi copiosamente derrotado, na área Castelhana de Espanha, nas eleições ocorridas em 20 de Dezembro de 2015, que votou massivamente no nacionalismo centralista proposto pelo PP. E na área não Castelhana, o PP ganhou mas não teve a esmagadora maioria dos votos.
  
  Foi notório que o PSOE apenas venceu na Andaluzia e na Estremadura, e que o PODEMOS e os partidos nacionalistas venceram no País Basco e na Catalunha relegando o PP e o Ciudadanos para lugares a roçar o irrelevante.
  
  O PODEMOS apresentava e apresenta em relação a este assunto a capacidade de os cidadãos poderem ser consultados neste âmbito e beneficiou notoriamente de muitos votos nacionalistas que achavam que se este ganhasse nas eleições gerais iria abrir a porta a referendos de independência.

  Após o impasse, e em 26 de Junho 2016, dá-se outro pleito eleitoral, e o projeto do PSOE por uma Espanha Federal, foi ainda mais rechaçado, desta vez nem a Estremadura nem a Andaluzia subscreveram o projeto de uma Espanha Federal, apresentado de novo pelo PSOE liderado por Pedro Sánchez.

  De novo o eleitorado tanto da Catalunha, como o País Basco rechaçaram os partidos que subscreviam sem reservas o centralismo castelhano. Os dois partidos, PP e Ciudadanos, nem a um quarto dos votos expressos (mais ou menos 24%) chegaram na Catalunha e no País Basco nem a fasquia dos 15% conseguiram ultrapassar.

  Noutras comunidades não castelhanas, como a Astúrias, Galiza ou Canárias, o cenário foi mais ou menos igual, com o PP a ganhar mas a ficar de novo muito próximo do PSOE, o lirismo de Pedro Sánchez foi assim batido diante da realidade dos resultados eleitorais nacionais.

  E se este foi batido em Espanha, porque é que em Portugal, o PS acha que essa é a opção que pode existir em Espanha e que tanto a Catalunha, como provavelmente e de proximamente, o País Basco, não iriam declarar a secessão e a independência?

  Estará o PS de Portugal a pensar que os Catalães e os Bascos iriam continuar a tolerar afrontas e a abdicar do que sempre quiseram, só porque isso é lhes vedado constitucionalmente? O que vale mesmo a Constituição quando e esmagadormente a população quer ser consultada e com grande probabilidade é maioritária à possibilidade de ser independente!?!?!

  Não era vedado a Timor Leste, a independência na nova e democrática República da Indonésia, que após Maio de 1998 era já uma República sem ditadura e multipartidária, e que, só após muita pressão internacional, é que em 30 de agosto de 1999, esse referendo foi permitido.

  Já me informaram, vários camaradas e alguns com responsabilidades dentro da estrutura do PS, que os casos não são comparáveis. Os dois casos, lamento mas são, tanto o País Basco como a Catalunha foram ocupadas sob o regime de Franco e sofreram um genocídio cultural, político e demográfico desde outubro de 1937, o País Basco e 23 de janeiro de 1939, a Catalunha.

  Dezenas de milhares de políticos, guerrilheiros republicanos independentistas, simpatizantes da independência e até professores das línguas catalã e basca, foram fuzilados sem nenhum julgamento e muitos milhares continuam desaparecidos ainda, nada que a Indonésia não tivesse feito também em Timor Leste.

  O mesmo se passou com a tentativa de castelhanizar forçadamente essas comunidades, com mais sucesso na Catalunha do que no País Basco, onde esse sucesso apenas se verificou parcialmente em Navarra, uma comunidade criada ficticiamente para "partir a espinha" ao nacionalismo Basco mais moderado nessa área. Milhares de cidadãos da Andaluzia, de Múrcia e da Estremadura foram "transferidos" com oferecimento de trabalho e morada, para a Catalunha (essencialmente à volta de Barcelona), Navarra e o País Basco. Nada que a Indonésia também não tentasse fazer em Timor Leste.

  E por fim veio a tal transição democrática, com uma pré-assunção que as comunidades catalãs e bascas se iam esquecer de anos de opressão e ditadura e apoiar de cruz esta nova versão de um ditador em forma de Rei e com um parlamento centralizado em Madrid e não um ditador total, como era Franco, sem parlamento e também de Madrid.

  Pois mas vejam lá, no referendo que aprovou a constituição espanhola de 1978, tanto a abstenção com os votos contra e em branco, as três posições assumidas pelos partidos nacionalistas catalães e bascos, foi massiva.  E para vos dar uma ordem de grandeza em alguns casos, o País Basco e o interior da Catalunha (sem Barcelona onde se concentram os emigrados referidos) a abstenção dobrou face à média nacional. Acham mesmo que a população original, fortemente independentista, da Catalunha ou o do País Basco, tinha esquecido em 1978, 39 anos e 41 anos (respetivamente) de total e absurda perseguição e impunidade franquista, e que estavam dispostos a aceitar outro poder centralista de Madrid, fosse este mais ou menos democrático.

  E o problema do País Basco evoluiu para o terrorismo e na Catalunha isso só não ocorreu porque a Esquerda Republicana Catalã e franjas mais radicais, que agora são representadas pela CUP sempre tiveram liberdade de atuação, a mesma que agora lhes negam!!! Para além de que o nacionalismo catalão sempre foi mais passivo por ser agrário e conservador (e ser baseado num interior rural muito católico) do que militante e operário como o Basco.

  Timor Leste e o País Basco e a Catalunha são comparáveis e não existe, lamento, nenhuma justificação para que o PS de Portugal não subscreva a ideia do seu fundador, Mário Soares, que seria e será inevitável a independência da Catalunha e do País Basco, caso e repito a citando mais uma vez a sua crónica, que: "Como disse Felipe Gonzalez, é a altura de Espanha perceber que deve ser um Estado federal, porque caso contrário serão obrigados a ir muito mais longe."

  O PS apoiou o direito à autodeterminação de Timor Leste, e bem porque a nossa constituição assim o defende, dizer que este processo e outro que agora se apresenta, nada tem a ver é roçar a má fé e sinceramente por a cabeça debaixo da areia, como uma avestruz.

  Por isso o PS de Portugal está a perder o comboio da história e tenta com maquilhagens absurdas se comprometer com aquilo que é um puro lirismo do PSOE, o processo constitucional nada trará, pois tanto o PP como o Ciudadanos irão obstaculizar qualquer tentativa de se referendar as autonomias e qualquer tentativa de se poder, sem sangue, conseguir uma independência. E sim este haverá e será inevitável e depois não me digam que não foram avisados, quando o extremismo recrudescer, talvez em Madrid, pensem que chegou a altura de negociar.

  Lamento eu não sou lírico, leio a história, interpreto-a e sob esta decido em função do que existe, das posições que já tivemos em casos semelhantes e do que deve ser a nossa posição correta. Se o PS não o quer, tudo bem, eu tal como Mário Soares não ficarei indiferente ao inevitável.

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