quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Entre mim e a política,

  




   








   O meu activismo politico começou muito cedo. Durante os velhos tempos em que as escolas tinham listas de pessoal com futuro brilhante no discurso político. Eu  juntava os  "revolucionários" de carteira, pessoal que se desconhecia numa escola pública elitista e dividida socialmente. Fazia parte do que consideravam a "malta da pesada".
  
   Não foi difícil com o meu espírito abraçar a causa partidária mais tarde. O espírito caseiro já lá estava e a força política já existia, jovem e cheia de vontade de crescer. Da minha adolescência revolucionária até ao Bloco foi uma questão de tempo. Aos 20 anos já era militante de "carteirinha". O ímpeto tornava capaz der defender a minha causa política. Não havia causa tão Kafkiana como aquela que eu aceitava.
  
   Tudo muda, os tempos e o estalo da realidade levaram-me lentamente a centrar o meu espaço politico e trocando a minha simpatia revolucionária por um punhado de avanços na democracia. Não gostava, tal como hoje ainda não gosto, do estado do Estado, mas estava a começar a compreender que as minhas ideias inspiradas em revoluções e iniciativas que relembram tempos diferentes já se distanciavam do caminho traçado. Já uma professora me dizia que a história só se repete porque os remédios adoptados no passado nunca fizeram efeito para o futuro.
  
   Depois de anos aos trambolhões com quilos e quilos de livros cheios de letras e números apercebi-me que a realidade revolucionária era mera utopia. Não é tão fácil levar uma sociedade a acreditar em ideais sem que eu próprio acredite neles. Certo é que me tornei moderado, a linha revolucionária que apregoava com meros quinze anos estava mais moderada. A utópica revolução dava há luz ideias de um processo de democratização maior e mais extenso.

   Não respirei muito tempo a minha militância no BE depois disto. A distância que nos separar já não era apenas uma linha. Dúvidas, soluções, medidas, propostas e caminhos, era tanto aquilo que nos separava quanto aquilo que me distanciava da revolução social e me obrigava a procurar soluções na democracia actual.
  
   Após a saída do BE não deixei o activismo , talvez um bocado mais participativo naquilo que realmente me deveria interessar como membro de uma sociedade onde o índice de participação se confunde com a militância politica. A minha veia sectária já tinha secado, abracei a causa das pontes, do diálogo e do "paz e amor" na vida política.

   Não sou um desistente por natureza, mas existe algo em que acredito profundamente, cada vez a vida partidária é me menos interessante. Cada vez me centro mais no essencial, nos debates acesos com um aperto de mão no fim, cada vez me vejo mais outsider de uma dinâmica partidária ligada às máquinas partidárias, aos grupos internos e à mistica partidária. A politica precisa de um novo cheiro, de novas formas de ser pensada e feita. Precisa de uma mudança de paradigma que deixe a democracia respirar de alivio do clima fraccionado.

    Já o meu pai dizia para despendiar energia em algo que valha a pena desafiar. Talvez já desconfiasse que ceder ao chamamento do activismo político. Estranho é que tão rápido percebesse porque é que ele nunca alinhou na vida partidária. Entendo hoje, que tal como ele, a vida partidária se tornasse tão desinteressante.

   A questão é, fará ou não sentido a militância? Talvez demore algum tempo mas acredito que cada vez menos sentido faz.

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